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Custo de Vida Dispara em Portugal: Brasileiros Emigram em Busca de Melhor Qualidade de Vida

Published on: 03 October 2025

Custo de Vida Dispara em Portugal: Brasileiros Emigram em Busca de Melhor Qualidade de Vida

Brasileiros Deixam Portugal Diante do Aumento do Custo de Vida

O aumento do custo de vida em Portugal, impulsionado pela inflação e pelos altos preços dos aluguéis, tem levado muitos brasileiros a retornarem ao Brasil ou buscarem alternativas em outros países europeus. A tradutora Lara Sheffer, que viveu em Oeiras, região próxima a Lisboa, exemplifica essa tendência, optando por retornar a Florianópolis, onde encontrou melhor qualidade de vida.

O Impacto da Inflação e dos Aluguéis Elevados

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística de Portugal, a inflação no país atingiu 2,8% em agosto de 2025, com destaque para a alta dos alimentos. Além disso, o preço dos aluguéis também tem subido significativamente. Um apartamento de um quarto na região metropolitana de Lisboa, que custava 935 euros há dois anos, pode chegar a 1250 euros atualmente. Lara Sheffer relata um aumento de 300 a 500 euros por mês nos gastos com alimentação e mercado, sem contar o aluguel.

De acordo com o site Idealista, o preço médio nacional para aluguel em Portugal foi de 16,8 euros por metro quadrado em agosto de 2025, um aumento de 3,3% em relação ao mesmo mês de 2024. A alta dos preços é atribuída, em parte, à procura de inquilinos europeus com maior poder aquisitivo, que elevam o valor do arrendamento e dos imóveis em geral.

A Burocracia e a Busca por Alternativas

Outro fator que pesou na decisão de muitos brasileiros foi a demora na renovação da autorização de residência, dificultando viagens e limitando as oportunidades. Lara Sheffer menciona que a possibilidade de ficar "presa" em Portugal por quase um ano sem poder viajar contribuiu para sua decisão de voltar ao Brasil. A facilidade de ter a casa própria e a possibilidade de trabalhar para clientes estrangeiros, recebendo em euro ou dólar, também foram fatores determinantes.

"Nós realmente temos uma qualidade de vida melhor aqui. Em parte porque o meu trabalho é independente, então, eu trabalho muito para clientes de fora e costumo receber ou em euro ou em dólar. Vivendo no Brasil, a gente consegue e acaba tendo uma vida mais confortável." - Lara Sheffer

O Encarecimento da Vida na Europa

O aumento do custo de vida em Portugal reflete um movimento mais amplo na Europa, impulsionado pela crise energética, inflação de serviços e juros mais altos. João Alfredo Lopes Nyegray, professor de Geopolítica da PUC-PR, destaca que os preços médios dos aluguéis na União Europeia subiram cerca de 28% entre 2010 e 2025, enquanto o valor das casas avançou mais de 55%. No caso português, a "turistificação" e a forte procura de estrangeiros por imóveis em Lisboa e Porto agravaram a situação.

A criação de vistos para nômades digitais e autorizações de residência para trabalho remoto ampliou a presença de profissionais com salários mais altos, elevando os preços dos contratos de aluguel. Essa dinâmica gera um "duplo estrangulamento", com a procura crescendo e a construção de novos imóveis sendo travada pelo encarecimento das hipotecas e dos materiais.

Espanha e Bélgica: Destinos Alternativos

O bibliotecário Lucas Carrera, após sete anos em Lisboa, escolheu Barcelona, na Espanha, buscando aumentar o salário e ter mais poder de compra. Ele relata que, embora o aluguel não tenha aumentado muito, o lazer e os gastos fixos encareceram consideravelmente. Atualmente, trabalhando como recepcionista de hotel, ele ganha o dobro do que ganhava em Portugal.

Da mesma forma, Glauco Brandão, após viver em Lisboa, mudou-se para Ghent, na Bélgica, onde encontrou melhores condições financeiras. O marido recebeu uma oferta de emprego com salário três vezes maior, e Glauco encontrou trabalho com um salário mais que o dobro do que ganhava em Portugal. Ambos relatam que, embora a questão financeira tenha pesado mais, os discursos anti-imigração também influenciaram suas decisões.

Gentrificação Acelerada e a Perda da Diversidade

O processo de gentrificação tem se intensificado em Lisboa e Porto, provocando aumento dos aluguéis, transformação do comércio local e substituição de moradores antigos por turistas e estrangeiros de maior poder aquisitivo. Luís Filipe Gonçalves Mendes, professor da Universidade de Lisboa, avalia que Lisboa passou por um processo acelerado de gentrificação e turistificação em comparação a outras capitais europeias.

Para enfrentar o problema, Mendes defende uma combinação de medidas, como expansão da habitação pública, regulação mais rígida do alojamento local e taxação sobre segundas residências compradas por não residentes. O professor alerta que esse processo aumenta o deslocamento de famílias para áreas periféricas, gerando desorganização na vida cotidiana e comprometendo o acesso a serviços.

Políticas de Imigração e a Necessidade de Permanência Sustentável

Em 2023, a comunidade brasileira que reside legalmente em Portugal contava com 513 mil pessoas. Entretanto, o último relatório da Aima (Agência para a Integração, Migrações e Asilo) indica que mais da metade (52,4%) das Notificações de Abandono Voluntário emitidas em Portugal são destinadas a brasileiros. O programa de Retorno Voluntário também tem um grande número de beneficiários brasileiros.

João Alfredo Lopes Nyegray destaca que, embora Portugal adote uma postura relativamente aberta em relação aos cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a facilidade de entrada não garante condições de permanência sustentável. O descompasso entre políticas migratórias e habitacionais dificulta a transformação da residência legal em um projeto de longo prazo. A saída da população imigrante empobrece cultural e economicamente as cidades, comprometendo a sustentabilidade urbana a médio e longo prazo.

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